Em março de 2018 eu tive a oportunidade de conhecer Taiwan.
Apesar de já ter visto muito produto “made in Taiwan” e ter trabalhado com uma taiwanesa, eu não tinha estudado nada sobre esse país, uma ilha colada à China.
A ilha de Taiwan foi o local para onde os nacionalistas da China se exilaram quando perderam a guerra civil para os comunistas.
É um lugar incrível, me senti muito seguro e fui muito bem tratado.
E se você acompanha um pouco os noticiários, você percebeu que o exército chinês fez “demonstrações” de armas apontadas para a ilha de Taiwan, o que acabou gerando conflitos geopolíticos.
Apesar de ser uma ilha, Taiwan é hoje o maior mercado de semicondutores do mundo. É de lá que chips usados em vários produtos como smartphones, notebooks, carros e outros são produzidos.
E uma nova cortina de ferro está sendo desenhada no mundo.
Mas dessa vez ela vai ser digital.
A cortina de ferro foi um termo usado por Winston Churchill para se referir ao bloco socialista que existia no continente europeu. Foi utilizado na Guerra Fria, assim chamada por ser uma guerra que sempre ficou no plano das ameaças, mas de fato nunca ocorreu (ainda bem).
E parece que essa situação é o que estamos vivenciando no momento. Na verdade, em partes.
A Rússia deu início a uma guerra com a Ucrânia enquanto a China só ameaça Taiwan.
A China aproveitou para observar o que aconteceria nessa guerra da Rússia. E o que aconteceu foi algo que não estava previsto.
O ocidente se uniu para defender a Ucrânia.
Isso fez com que a China repensasse seus planos de tomar Taiwan.
E porque digo isso? Porque Xi Jinping já disse publicamente que pretende fazer isso. Na visão dele, é o que falta para a China voltar a ser o centro do mundo.
Mas essa guerra não será tão fácil de se iniciar como foi a guerra que a Rússia iniciou, avançando e explodindo locais.
Explodir Taiwan seria explodir as fábricas de semicondutores. E existe toda uma estrutura por trás dessas fábricas.
Por mais que os EUA estejam querendo produzir semicondutores em seu próprio país, mesmo para a maior potência do mundo será muito difícil. O que Taiwan fez em todos esses anos foi se especializar nisso.
Então, o mundo vive novamente uma guerra fria.
Para as empresas que têm a China como seu principal e único parceiro comercial, o dual sourcing começa a fazer muito sentido. O caminho que grandes corporações estão tomando é desenvolver fornecedores na Índia e no Vietnã.
Aqui, compartilho outro insight: se a China ficar mais “pobre”, o Brasil também ficará mais pobre. Quem é a favor de cortar relação com a China, precisa repensar se é de fato uma boa saída.
Além disso, não dá para aplicar sanções à China, como foi o caso da Rússia. A maioria dos países do mundo tem a China como seu parceiro comercial. A sanção vale para os dois lados. Não poderemos mais vender, mas também não poderemos comprar deles.
Obviamente, outros países irão se beneficiar com esse novo mercado que estará disponível. Por exemplo, o México, apesar de ter uma política não muito receptiva, será muito favorecido, devido à sua localização.
Nos últimos anos as duas maiores potências do mundo se ajudaram, gerando produtos mais baratos para o mundo todo. Mas o cenário de reversão já iniciou. Os EUA estão proibindo empresas chinesas, como é o caso do Tik Tok, de operar no país.
Só que agora, com as tensões geopolíticas, essas cadeias de produções globais estão se fragmentando. A inflação parece que não vai arredar e vamos precisar conviver com ela em patamares elevados por mais tempo.
Outra tendência que está sendo rabiscada para o futuro é o fim do estoque just in time, justamente por essa fragmentação de cadeia de produção. Será que viveremos épocas de grandes estoques novamente?
Todas as empresas devem se preparar para uma guerra tecnológica que já iniciou.
E você, o que acha que pode acontecer?